Inadimplência aumenta e prejudica comerciantes

Na última semana, foi celebrado o Dia do Consumidor. Enquanto muitas lojas e negócios, principalmente on line, fizeram promoções especiais para fomentar as vendas aproveitando a data, a maioria dos lojistas convencionais da região retraíram, seja pelo preparativo das próximas ações de vendas com a Páscoa seja pelo receio de vender e não receber. O número de inadimplentes cresce no Brasil inteiro e os comerciantes estão cada vez mais preocupados.

Conforme um levantamento divulgado no início deste mês pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), o número de pessoas inadimplentes subiu. Em 1 ano, 900 mil brasileiros entraram na lista de nomes sujos. Em fevereiro, 58,9 milhões de pessoas estavam com alguma dívida pendente. Isso significa que 39,25% dos brasileiros encontram-se inadimplentes. Esse é o maior número de brasileiros no vermelho desde 2012. As dívidas atrasadas desses consumidores chegam a R$ 270 bilhões. De acordo com o levantamento, a faixa etária com a maior taxa de inadimplência é de 30 a 39 anos. Cerca da metade (49,85%) dos brasileiros desse grupo possuem alguma dívida. Numa comparação com 2013, por exemplo, o percentual de brasileiros com nome sujo na praça cresceu 18%. Conforme especialistas, o desemprego associado à elevação das taxas de juros são os principais fatores que explicam esse aumento no número de inadimplentes.

s Uma comerciante que iniciou seus negócios há cerca de dois anos em Horizontina, diz que está assustada com o número de devedores. “Muitos nem passam mais na frente da loja, ou sequer atendem o telefone. Mas vejo que estão comprando em outros lugares, onde talvez vão ficar devendo também. Muitos estão ostentando uma vida muito boa financeiramente, mas não pagam”. Ela diz que está pensando em começar a utilizar o SCPC.

O Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), ofertado pela ACIAP entre os inúmeros benefícios aos seus associados, é um sistema de cadastro de créditos. A secretária executiva da ACIAP, Geanine de Oliveira, explica que por meio dele, o comerciante pode consultar CNPJ e CPF, incluir e excluir nomes dos devedores, tudo pela internet. “Está tudo na mão do empresário, é uma ferramenta completa”, destaca. Conforme dados da ACIAP, os lojistas de Horizontina levam em média 127 dias para registrar o nome dos inadimplentes no SCPC. Já em Porto Alegre, o tempo médio é de 77 dias. A diferença reflete na porcentagem de exclusões até 30 dias após o registro: enquanto que 30,63% dos devedores de Horizontina pagam sua dívida em até 30 dias após ter seu nome registrado no SCPC, o número da capital é de 54,62%. Ou seja, quanto antes registrar a dívida, mais chances tem de receber o que lhe é devido. “Além de proteger seu próprio negócio, o empresário que negativa seus inadimplentes estará protegendo a nível nacional todos os segmentos, o que gera um círculo, se o cliente está negativado na empresa X, a empresa Y vai consultar o CPF e negar o crédito, fazendo com que o cliente queira regularizar a dívida o mais rápido possível”, destaca Andressa Tesche, assistente financeira da ACIAP.

Os comerciantes também buscam alternativas. Com seu negócio no centro da cidade, uma empreendedora afirma que para acabar com os problemas da inadimplência, não vende mais no conhecido ‘fiado’. “Hoje em dia tem várias opções de pagamento com o cartão, cheque ou dinheiro. Não tem como a pessoa não pagar. O que me deixa indignada é o abuso de certas pessoas que devem mas saem por aí se achando da elite”, comenta. O comportamento do consumidor com a má intenção também é destacado por outra lojista horizontinense. Ela comenta que já foi lesada diversas vezes por clientes que levaram algumas peças no tradicional ‘condicional’ e não devolveram, muito menos pagaram. “A gente confia nas pessoas. A cidade é pequena, praticamente todos se conhecem, mas isso já me aconteceu muito”.

Enquanto a crise e o perfil de alguns consumidores mal pagadores permanecem, economistas apontam algo positivo, afirmando que o saque dos saldos das contas inativas do FGTS poderá ajudar muita gente a sair do vermelho, limpar o nome e recuperar seu crédito. Segundo um estudo do SPC Brasil e da CNDL, dos cidadãos que têm direito ao saque, 38% vão usar o valor para o pagamento de dívidas, favorecendo muitos comerciantes, talvez um início para acabar da inadimplência.

Fonte: Jornal Novo Horizonte – Edição 17/03/2017