Sobre o momento de crise - por Marcelo Blume

Vivemos dias de muitas crises, que antes da crise econômica já davam muitos sinais. Há tempos vive-se uma crise de bom senso e de ética nas relações, onde o desejo de levar vantagem tem se propagado até atingir níveis jamais imaginados. Entendo que esta é a crise que tem ocasionado todas as demais.

Da necessidade de levar vantagem em tudo, que a longo prazo é insustentável, veio a crise política, onde a manutenção de alianças ocorre cada vez mais pelas vantagens individuais e cada vez menos pela intenção de melhorar o coletivo.

Quando mais gente se deu conta de que a maioria quer levar vantagem em tudo, se instala a crise de confiança, onde o receio de ser enganado, de perder dinheiro ou patrimônio, de arriscar e perder tudo, mesmo que pouco do que foi conquistado com muito esforço, vai sendo elevado a níveis quase insuportáveis. A quebra de contratos, onde o próprio país muda regras que estruturaram determinados setores, que em tese esperam estar em setores e atividades confiáveis, abalou ainda mais a confiança de investidores, aprofundando um sentimento que chegou aos consumidores.

Chegamos na crise especulativa, que notadamente, é outra crise decorrente do desejo de levar vantagem em tudo, característica muito presente em nossa cultura popular, que de alguma forma, precisamos conseguir superar. Há setores da economia notadamente capitalizados, porém, os clientes não compram esperando a redução dos preços, uma grande oferta, uma queda nos juros, uma redução dos tributos. O varejo de muitos setores praticamente zerou o estoque pensando em comprar por menos e vender por mais, aguardando o cliente pedir. A indústria aguarda um câmbio favorável, incentivos fiscais, redução de encargos sobre a folha. As entidades sindicais de empregados e empregadores, tentando tirar vantagens diversas do momento, barganham situações que ambas podem se arrepender mais tarde. Instituições financeiras seguram o crédito aguardando o aumento dos ganhos com juros em linhas mais vantajosas. Podemos antecipar o fechamento do ciclo com as corretoras de ações especulando a compra de ações baratas agora para ganhar muito numa possível mudança do governo e assim segue-se tentando obter vantagem em tudo.

Sobre crise também podemos aprender com uma das grandes figuras de nossa história, o físico alemão Albert Einstein, cuja própria vida, é um grande exemplo de superação. Preocupava os pais aos 3 anos ao ter dificuldades em se comunicar e por mais tarde ter reprovado no primeiro vestibular. Na escola, mesmo tendo desempenho com notas acima da média, era considerado mais lento que os colegas de sala na resolução de problemas matemáticos. Foi influenciado por um médico para fazer a leitura de obras complexas, mesmo desde cedo. A superação de dificuldades particulares e as leituras variadas renderam-lhe a condição de ver o mundo muito além de cálculos e física, nos deixando brilhantes pensamentos sobre os momentos de crises, como este: “Não pretendemos que as coisas mudem, se sempre fazemos o mesmo. A crise é a melhor benção que pode ocorrer com pessoas e países, porque a crise traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite escura. É na crise que nascem as invenções, os descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo, sem ficar superado.”

A superação é importante em todos os obstáculos e com ela temos oportunidades de progredir muito. Albert Einstein ainda tem outro pensamento que deve vir a luz neste nosso momento: “Quem atribui à crise seus fracassos e penúrias, violenta seu próprio talento e respeita mais os problemas do que as soluções. A verdadeira crise é a crise da incompetência. O incoveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar as saídas e as soluções fáceis. Sem crise não há desafios. Sem desafios, a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la.”

Por Marcelo Blume

Marcelo é Administrador, Especialista em Marketing e Mestre em Engenharia de produção, Dirigente na FAHOR e professor convidado em diversas Instituições, Diretor do Departamento de Marketing da ACIAP, também é sócio e consultor da Referência Consultoria, palestrante e escritor com artigos e 4 livros publicados na área de gestão.